02 novembro 2007

Saiu na Veja...

Postar e aparecer

No mundo dos fotologs, quem se
destaca vira modelo de adolescentes

Laura Ming


Sabe aquele sonho secreto que todo jovem tem, de que algum dia alguém descobrirá o seu trabalho (sua foto, seu site, sua banda) e o revelará para o mundo? Quatro meninas comuns, que nunca fizeram nada de especial – a paulista Mariana de Souza Lima, ou Mari Moon, 24 anos, a carioca Ana Paula Matta, apelido Apê, codinome Ímpar, 20 anos, Shana Andressa Roeder, 17, a Maluka, de Pomerode, em Santa Catarina, e Carolina Lira Alves, a Lolly, que tem 16 anos e mora no Recife –, estão aí para testemunhar que o improvável acontece. Em comum, cada uma tem seu fotolog, um blog com muitas fotografias e algumas palavras, ao qual dedicam horas e horas de seu dia. A dedicação é justamente seu diferencial, num ambiente coalhado de, como dizem, fotologgers (ou, abreviando, floggers) – segundo o Fotolog, site americano que aloja esses diários fotográficos, são 1,2 milhão de adeptos no Brasil, 20% do total mundial. Enquanto um logger comum posta (outro termo em bloguês) uma foto de vez em quando, as quatro meninas trocam a sua todo dia e gastam horas se aprontando, fazendo caras e bocas, apontando a câmera para si mesmas e clicando (um dedinho aparecendo no canto é charmoso), para escolher e postar a imagem que melhor combina com seu estado de espírito. Também atualizam sempre as outras fotos – do seu quarto, do seu cachorro, da sua casa. Enquanto a maioria responde a um ou outro comentário de visitantes, as quatro, atenciosas e simpáticas, dão atenção a todos, opinando, elogiando, aconselhando (tudo em poucas palavras e sinais cifrados para o leigo, visto que a escrita não é o forte do bando). De mensagem em mensagem, viraram uma espécie de musas para milhares de fãs, a quem ditam modo de vestir, de falar e de se comportar. Sendo sua área de influência justamente aquela faixa etária em que vende seus produtos, a Melissa, fabricante de calçados de plástico para jovens, tratou de cooptar as celebridades virtuais para o mundo muito real dos negócios: Mari Moon, Apê, Maluka e Lolly acabam de assinar contrato para prestar assessoria e divulgar a marca. "Comecei como uma brincadeira. Ainda não acredito que virou uma coisa tão séria", diz Lolly, que nem de internet gostava antes de um amiga lhe fazer um fotolog.

Quem se dispõe a acompanhar assiduamente o dia-a-dia de uma desconhecida? Quase todo mundo entre 12 e 18 anos. Funciona assim: uma amiga indica um fotolog, a menina acessa, comenta, visita o fotolog de outros visitantes, comenta, faz o seu próprio, recebe comentários, e pronto – o vínculo virtual está formado. Foi dessa maneira que a jovem Kaminsky Gilbert, 12 anos, de Campinas, virou amiga do peito de Apê, de quem copia as roupas e com quem "conversa" todo dia. "Ela é demais. Quando estou triste, me dá conselhos, melhora o meu dia", conta Kaminsky, que nunca ficou frente a frente com Apê, mas tem absoluta certeza de que ela é "gente boa". "Os adolescentes querem ídolos acessíveis. Que conversem com eles, sejam parecidos", diz Fernanda Bruno, professora de pós-graduação em comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Eles estão divididos em muitas tribos, e as estrelas da música e da televisão não os representam mais."

De modo geral, a tribo é melancólica. Manifestações como "Tenho me sentido deprimida" e "Será que a vida vale a pena?" ensejam intensa troca de mensagens. Abrir o coração e compartilhar as angústias que o assaltam é outro tema freqüente. Mari Moon, estudante de moda, cabelo colorido (atualmente, pink) e pele branquíssima, campeã de acessos no país (70.000 por semana), teve depressão e dividiu dia a dia o problema com seus interlocutores. Popularíssima, ela também tem mais de 6.000 amigos e cerca de cinqüenta comunidades em sua homenagem no site de relacionamentos Orkut. Antes do contrato com a Melissa, era a única que ganhava algum dinheiro com a fama: percebeu que as meninas queriam ser iguais a ela e montou uma lojinha virtual de roupas. Outra atribuição imprescindível dos loggers de sucesso é freqüentar o fotolog dos outros para saber as novidades. "Hoje em dia o legal não é o bom, é o novo", diz Luli Radfahrer, professor de comunicação digital na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. "Essas meninas funcionam como curadoras, selecionando as novidades."

Os vínculos virtuais podem ser fortes. Mari Moon e a carioca Apê (35.000 acessos por semana) são hoje em dia melhores amigas, que se visitam quando dá e teclam-se todas as novidades. De conversa em conversa, a catarinense Maluka (4.000 acessos por semana) não sai do computador. "Posso passar até dez horas sentada direto na frente do PC. Desde que criei meu fotolog, comecei a ir muito pior na escola", confessa. Maluka tem mais amigos chegados na internet do que fora dela. Há duas semanas, recebeu em Pomerode a visita de Renan Rodrigues, de Santos, em São Paulo, que nunca tinha visto em pessoa. "Foi muito legal. Passamos um bom tempo no computador, comentando e mexendo no fotolog um do outro. Na minha cidade não tem muito que fazer", relata. Ana Paula, que se apelidou Ímpar "porque sou única", conheceu por fotolog até o namorado, Gabriel, que ela foi (de ônibus) conhecer em Belo Horizonte. "Acho que consigo perceber como é a pessoa pelo computador", diz Apê-Ímpar, que se veste, maquia e posa para umas oitenta fotos todo dia. O esforço compensa: "Tem gente que, quando me vê, age como se eu fosse a Nicole Kidman", esnoba.

fonte: http://veja.abril.com.br/310107/p_068.html

10 comentários:

Anônimo disse...

Eu achei massa, por que uma revista manipuladora de opiniões como a Veja, que com certeza poderia ter feito alguma matéria pagando pau pra elas, fez mesmo o contrário.

"esnoba" foi ótemo!

Tati Viana, sem perfil do Blogger, não é Tati Viana. Aprecie com moderação e não acreditem na Tati Paraguaia...

Anônimo disse...

Até que enfim, palavras que fazem sentido nesse blog. Críticas construtivas e boas argumentaçãoes. E, embora considere a Veja um veículo sensacionalista, imparcial e corrompido pelo sistema, concordo em número e grau com a jornalista que fez a reportagem.

Palmas pro titio Steve que, pela primeira vez, acertou na escolha do post.

Anônimo disse...

ai ai. quem postou foi a tati. claro. veja é o mais longe que ela alcança. e veja "IMparcial"? onde, bem? isso parece texto de primeiro semestre de faculdade ruim de comunicação...

Anônimo disse...

Escrevi errado. Quis dizer PARCIAL, obviamente. Porque de imparcial a Veja não tem absolutamente nada, ela é completamente tendenciosa. Não achei a reportagem ruim, achei interessante. E não sou a Tati, DEUS ME LIVRE E GUARDE! Esta foi a pior ofensa que já pude receber.

Anônimo disse...

Aliás, espero que você tenha se referido a Tati por ela ter colocado o texto da Veja. Talvez tenha entendido mal. Que bom.

Anônimo disse...

não, querido homônimo, eu disse que quem postou o texto foi a dente, não foi o steve!

Mariana M. Maciel disse...

Meu, viva a bênção do anônimo xP

Nha, eu não gosto nada nada da Veja, mas que essa matéria matou a pau, matou. Ser parcial é uma arte.

Anônimo disse...

Nossa me comovi cof cof cof
o bando de arara, para de considerar a Veja mãe dos antifotologers, entre meios de comunicação, por um texto.
Se realmente vcs lessem a mto mais tempo a revista, saberiam que no começo do ano a super VEJA fez uma repotsgem destacando as "meninas" da melissa.
aé, esqueci vcs só obtem eituras relacionadas a fotologers...
lamentavel.

Anônimo disse...

Olha, AlguemQueLeu, eu apenas postei um texto muito bem escrito, que resumiu tudo, e que me fez ficar bem impressionada por ter sido a Veja.

E, é claro que eu não leio a Veja. Leio coisas muito mais interessantes. Bravo, por exemplo.

Anônimo disse...

"Se realmente vcs lessem a mto mais tempo a revista, saberiam que no começo do ano a super VEJA fez uma repotsgem destacando as "meninas" da melissa."

Graças a dios a gente não lê a revista HÁ tempos, porque é desperdício de tempo e dinheiro. E a matéria que eles fizeram no começo do ano, ma cherie, é essa mesmo.

E o mais engraçado é que, se você olhar o fotolog das melissetes, todas estão "ai, saí na veja, XD". Ou seja: ou não tiveram nem cérebro para perceber que a matéria as retrata como amebas desocupadas ou têm orgulho de serem amebas desocupadas.

Porque eu, sinceramente, sentiria VERGONHA de falar para a revista de maior tiragem nacional que eu fico sete horas no computador vendo fotolog ou que tiro mais de 80 fotos por dia.

Essa matéria foi jabaculê da Melissa, no mínimo (porque a Veja é jabaculenta, conheço pessoas que trabalharam lá), mas o editor teve um relampejo de consciência e deixou a repórter falar o óbvio ululante, que é a futilidade dessas gurias.

Não é porque a Veja costuma fazer jornalismo porco que a gente deve falar "ui, ui, ui, eles são uma merda" o tempo todo. Porque de vez em quando sai algo que preste, como em qualquer outra publicação.

PS - e, sim, eu sou a anti de verdade.